Barcas da Ilha do Governador são alvo de críticas em audiência pública na Alerj
quinta-feira, 25 de abril de 2013A rotina já é conhecida dos cariocas que se utilizam das barcas: desconforto, filas e atrasos no Rio, na cidade de Niterói, Paquetá, Ilha do Governador. Nesta quarta-feira (24), parlamentares e representantes da CCR Barcas se reuniram na Alerj para discutir problemas e soluções.
O presidente da Comissão de Transporte, deputado Marcelo Simão(PSB), pediu a audiência junto à Comissão especial das Barcas, presidida por Gilberto Palmares (PT) e por Luiz Paulo(PSDB). Este último, inclusive, foi o primeiro a criticar fortemente a CCR Barcas, chamando o sistema de ‘colapsado’.
“A expectativa é a pior possível. O edital foi feito com dispensa de licitação, e desde então, nada mudou”, criticou o deputado, destacando os problemas enfrentados pelos passageiros ao custo de R$ 4,80. “É a primeira vez na vida que eu vejo uma concessionária ganha uma concessão sem realizar um bom estudo prévio”, disparou, referindo-se às Barcas, licitadas desde 1998 e que passaram das mãos das Barcas S.A para a CCR Barcas em julho de 2012.
O representante das CCR Barcas, Rodrigo Abdala, reconheceu as falhas tanto no número de embarcações quanto na estrutura das estações, e prometeu melhoras: “Vamos aumentar de 14 para 48 as roletas na estação Niterói, isso até janeiro de 2014. Faremos uma reforma preliminar na Praça XV a partir de maio, aumentando em 50% as catracas. Teremos ar condicionado também em Charitas até julho”, disse Abdala. “Até dezembro não haverá mais filas”, garantiu. Segundo ele, nos dez primeiros anos, a empresa teve prejuízo nos 10 primeiros anos, e por isso a situação da empresa ainda inspira cuidados.
Quatro novas embarcações serão colocadas provisoriamente, pagas pela CCR Barcas, até que as nove embarcações recentemente licitadas entrem em circulação: 7 delas, com capacidade para 2000 passageiros, irão operar no trajeto Niterói-Rio, na licitação vencida pela empresa chinesa AFAE. Já outras duas, com capacidade para 500 passageiros, vão operar em Ilha Grande e tiveram a licitação vencida pela empresa brasileira Inace. A previsão é que a primeira das nove embarcações chegue ao Brasil no final de 2014.
Abdala também reconheceu um dado alarmante: nove das 21 embarcações em circulação têm idade média de 50 anos. “Elas serão lentamente substituídas. Vamos promover melhoras de infraestrutura, inclusive nas estações, que hoje não dão vazão ao fluxo”, reconheceu Abdala, acrescentando que o fluxo deverá ser de até 15 mil passageiros no horário de pico.
O número, porém, é menor do que os 18 mil previstos pela Secretaria de Transportes no bairro da Ilha do Governador, e insípido perto do previsto para o Elevado da Perimetral. “Serão 22 mil pessoas por hora. Pensamos em botar pelo menos mais 3 embarcações no circuito”, explicou Alexandre Veloso, representante do Secretário Júlio Lopes.
Segundo ele, o Plano Diretor de Transporte Urbano(PDTU), já em fase final de elaboração, é que vai elaborar e gerar os dados para que se defina mais concretamente quais serão as medidas a tomar em cada estação das barcas.
“Não há varinha de condão”, diz engenheiro
Fernando McDowell, engenheiro responsável pela construção do metrô no Rio na década de 1980, diz que a necessidade de Catamarãs maiores já era prevista na construção do transporte subterrâneo. Segundo ele, o que se percebe é que pouca coisa mudou:
” As barcas são as mesmas de 30 anos atrás. Pouco ou quase nada foi feito. Ainda não se pensou um sistema inteligente que faça as pessoas entrarem e saírem pelo mesmo lugar, por exemplo. Não se tirou ainda a principal desvantagem do metrô. Nos anos 80, já havia processos de redimensionamento do sistema hidroviário e pouca coisa foi feita. Sou favorável à concessão desde que as coisas sejam feitas de modo transparentes. Não há varinha de condão para que as coisas mudem”, disparou McDowell, para logo depois pedir que seja feita uma “engenharia financeira”. “Tudo isso para equilibrar econômica e financeiramente a empresa que está com a concessão”, explicou o engenheiro.
Luiz Paulo perguntou quais eram os acionistas da CCR Barcas. Ao ser respondido, ele comentou: “Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e Serveng, nenhuma delas ligadas ao sistema hidroviário”, ironizou, continuando seu ataque. ” O contrato não previa a reforma das estações e nem o subsídio das tarifas, além das nove embarcações. A herança da CCR Barcas é completamente irregular”, disse o tucano.
Gilberto Palmares, presidente da Comissão Especial das Barcas, disse que está sendo descumprida a lei 6138, que versa sobre a auditoria das contas das barcas. Segundo ele, os números entre 2008 e 2012 não foram liberados até hoje. “Nessa mesma lei, está escrito que as auditorias poderiam ter como consequência a alteração das tarifas. Ou seja, tem muita coisa esquisita”, disparou o petista.
O membro do conselho diretor da Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes Aquaviários, Ferroviários, Metroviários e de Rodovias do Estado do Rio de Janeiro, Herval Barros de Souza, estava se sentindo mal e precisou sair mais cedo, mas disse que “irá investigar os detalhes desse processo”, não sem antes ouvir de Palmares que a Agetransp não funciona como uma agência reguladora. “Parece mais uma outra instância da Secretaria de Transportes”, finalizou duramente o petista.
Fonte: Jornal do Brasil
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